Há tempos deixei de abastecer este Blog, mesmo assim ele continua ativo, servindo de inspiração para muitos professores. Se você chegou até aqui, saiba que os conteúdos aqui postados são aulas que preparei para mim. Eu não quis guardar minhas experiências, pois sei que a maioria dos professores não têm muito tempo. Aproveite. Blog criado em 18/09/2006

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30 de novembro de 2010

Fernando Pessoa



As vezes ouço passar o vento; 
e só de ouvir o vento passar, 
vale a pena ter nascido.”



Fernando Pessoa – poeta e escritor português

17 de novembro de 2010

Um conto de Kahlil Gibran




Eu estava andando nos jardins de um asilo de loucos, quando encontrei um jovem rapaz, lendo um livro de filosofia.
Pelo jeito, e pela saúde que mostrava, não combinava muito com os outros internos.
Sentei-me ao seu lado e perguntei:
- O que você está lendo aqui?
O rapaz olhou surpreso. Mas, vendo que eu não era um dos médicos, respondeu:
- É muito simples. Meu pai, um brilhante advogado, queria que eu fosse como ele. Meu tio, que tinha um grande entreposto comercial, queria que eu seguisse seu exemplo. Minha mãe desejava que eu a imagem de seu adorado pai Minha irmã sempre me citava seu marido como exemplo de um homem bem sucedido. Meu irmão treinava-me para se um excelente atleta como ele.
Parou um instante e continuou:
- E o mesmo acontecia com meus professores na escola, o mestre do piano, o tutor de inglês – todos estavam determinados em sua ações e convencidos de que eram o melhor exemplo a seguir. Ninguém me olhava como se deve olhar um homem, mas como se olha no espelho.


8 de novembro de 2010

A Moça Tecelã




Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo se sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor de luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos de algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao seu lado.
Não esperou o dia seguinte. Com o capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.
Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
- Uma casa melhor é necessária, - disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo se sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor de luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos de algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao seu lado.
Não esperou o dia seguinte. Com o capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.
Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
- Uma casa melhor é necessária, - disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.


Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
- É para que ninguém saiba do tapete, - disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: - Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

Conto de Marina Colassanti

ATIVIDADE:
1- Nesse texto conta-se:
a- um fato real, que aconteceu
b- um fato inventado pela imaginação da escritora.
c- Indique fatos do texto que justifiquem suas respostas

2- Qual era a fantástica habilidade da tecelã?

3- Identifique as cores dos fios utilizados pela tecelã em cada uma das seguintes tarefas:
a- produzir raios de sol;
b- suavizar a luz solar;
c- produzir luz solar para acalmar a natureza
d- produzir chuva

4- “A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar  o sol”.  Nessa época ela não teve  oportunidade de utilizar os fios
a- cinzentos                                     
b- prateados
c- dourados

5- Identifique no trecho seguinte, a causa e  a  conseqüência contidos nas frases:
“... ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter o marido ao lado”.

6- Como a tecelã concretizou seu maior desejo?

7- Por que o comportamento do marido decepcionou a tecelã?

8- No antepenúltimo parágrafo do texto afirma-se: “Desta vez não precisou escolher linha nenhuma”. Por que?

9- Neste texto há muitas palavras e expressões empregadas em sentido figurado. Copie as frases equivalentes às seguintes idéias, nos parágrafos indicados no texto:
a- O sol chegando ao fim da noite (parágrafo 1)
b- A claridade da manhã iluminava o céu. (parágrafo 2)
c- A chuvinha começava a cair e ela observava da janela (parágrafo 4)
d- Tecia um lindo peixe, não se esquecendo dos detalhes da escama (parágrafo 7).
e- Depois de bordar a noite, dormia tranqüila (parágrafo 7).
f- ... e pressa para a casa ficar pronta (parágrafo 14)
g- A noite chegava e ela não tinha tempo de concluir o dia (parágrafo 16)
h- Rápido, seu corpo se desmanchava (parágrafo 23).

10- Quando se atribui qualidades de seres animados a seres inanimados ocorre uma personificação. Veja exemplos?
a- As paredes ouviram nossa conversa
b- O rio chorava na noite
c- As estrelas piscavam para mim

11- Copie uma personificação?
a- do 2º. Parágrafo do texto
b- do 4º. Parágrafo do texto
c- Escreva uma frase em que ocorra personificação

12- Escreva mais uma palavra empregando o mesmo prefixo identificado?
rebordava
entremear
desfazer
desteceu
desaparecendo
emplumado


13- No texto lido
a- predomina a narracão
b- predomina a descricão
c- predomina a dissertação

14- Copie do 10º. Parágrafo um trecho puramente narrativo

15- O texto pode ser dividido em três partes
a- 1ª. Parte – a situação da tecelã e equilibrada – ela não enfrenta problemas
b- 2ª. Parte – um fato vem perturbar o sossego da tecelã
c- 3ª. Parte – a tecelã resolve o problema e retorna a sua situação anterior

4- Indique o começo e o fim de cada uma dessas partes